Sugestão de série - Crazy Ex-Girlfriend

Rebecca Bunch (Rachel Berry), uma competente advogada, mas infeliz na vida, desiste de ser sócia do escritório onde atua para se mudar para o outro lado do país e reencontrar Josh Chan (Vincent Rodriguez III), o ex-namorado que ela não vê há dez anos.

Você assistiria à alguma série com esta sinopse, digna de filme de comédia romântica da Sessão da Tarde? Aposto que não. E se acrescentar que todo episódio tem um ou dois números musicais? Você torceria o nariz de uma vez?

Pois aconselho você a pensar duas vezes: dê uma chance para os devaneios da série Crazy Ex-Girlfriend, cujas duas temporadas estão disponíveis na Netflix. A princípio achei a premissa entediante, principalmente diante de tantas opções que temos na televisão ou por serviços de streaming. Também não me havia convencido dela estar na emissora nanica CW, berço das inúmeras séries de super-heróis da DC Comics - Arrow, Supergirl, Flash e tantos outros besteiróis, desde contos de fada atuais (The Beauty and the Beast) e vampiros da época da moda Crepúsculo (Diários de um Vampiro, não me matem!). Imaginei que seria mais uma daquelas baboseiras para adolescentes.

Essa ideia foi começando a mudar quando vi que Rachel Bloom, a protagonista e co-criadora da série, ganhou o Globo de Ouro de 2016 de melhor atriz de comédia ou musical, desbancando inclusive a franca favorita Julia Louis-Dreyfus, a desbocada vice-presidente de Veep. Não que premiações armadas sejam um parâmetro para eu começar a ver uma série, mas não há como negar que isso aguçou minha curiosidade.

Em dezembro de 2016, a série chegou na Netflix. Lembrei-me da premiação na hora, mas já tinha tantas outras séries na lista, que acabei deixando em segundo plano. Eis que no começo deste ano, João da Paz publicou no site Notícias da TV um artigo, questionando por que a série de menor audiência da TV americana ganhou outra temporada. Seria mais um caso em que a crítica adora e o público odeia, como o caso do filme La La Land no Oscar deste ano, que coincidentemente é também um musical? Foi a partir daí que vi que precisaria conferir a atração pessoalmente.

Para rir alto

Confesso que não vi La La Land, mas posso garantir que Crazy Ex-Girlfriend é muito divertido. Apesar da trama parecer batida, os diálogos são recheados de ironias e referências, umas bem obscuras, como uma das próprias personagens já criticaram em um dos episódios. Isso sem mencionar dos números musicais, sem dúvidas os pontos altos da série, pois enriquecem e pontuam as partes importantes de cada episódio. Sem contar que são muito bem produzidos, mudando o ritmo da série, com iluminações e figurinos diferentes.
 
Todo o elenco eventualmente canta e até dança diferentes estilos no decorrer da série. (Spoiler!) Desde Rebecca reclamando que tem peitos grandes dançando krump (afinal, são apenas sacos de gordura amarela, como ela mesma diz), Paula (Donna Lynne Champlin), amiga da protagonista, cantando e saltitando sobre seu sonho talvez se realizar num vestido de princesa da Disney, Darryl (Pete Gardner), novo chefe de Rebecca, entoando um country sobre como ama sua filha (de uma maneira não assustadora), até Valencia (Gabrielle Ruiz), a nova namorada de Josh se achando tão boa em yoga num especial de Bollywood, muitas das letras são de fazer chorar de rir, literalmente.

Meu favorito continua sendo Feeling Kinda Naughty (me sentindo meio sapeca, em tradução livre) do segundo episódio da temporada de estréia, em que Rebecca quer forçar amizade com Valencia, e algo a mais. Esta apresentação mostra a força cênica de Rachel Bloom, tanto como cantora como uma das criadoras da série. Além da música ser agradável aos ouvidos, não tem como não rir da letra passivo-agressiva e das caretas que Rebecca faz frente à atual de seu ex. Já estou na segunda temporada, mas essa continua sendo minha cena favorita. Clique abaixo para ver:



Crazy Ex-Girlfriend valoriza não só o elenco de atores/cantores, como também as personagens que aparecem em um ou outro episódio, que podem mostrar a desenvoltura dos palcos e soltar o gogó. A expectativa de ver quem vai cantar no episódio só aumenta a diversão ao ver a série.

Quanto ao enredo, o que pode ser dito sem soltar spoilers é que a trama não se prende apenas ao título, principalmente na segunda temporada. O bacana é a série querer se reinventar, criando plot twists (reviravoltas) que não deixam as personagens em situações que ficam em círculos, criando diferentes tipos de situações que os levam a tomar decisões que podem abalar a relação entre as personagens. Por isso, não se trata de uma série que só serve para torcer por casais ou esperar o fim de relacionamentos.

Em meio a tantas séries épicas, cheias de reviravoltas, mortes chocantes e discussões filosóficas, Crazy Ex-Girlfriend surge como uma boa alternativa, inovadora para o formato comédia. Isso serve também a este leque de séries, que mesmo não tendo mais tanto o claque das risadas, estão numa verdadeira crise de identidade, tendo que dosar as piadas escancaradas com doses de drama realista onipresente nas produções atuais, para gerar identificação com o público.

Ao menos tente acompanhar a jornada de Rebecca até West Covina, para saber se o recomeço valeu a pena. Sendo fã de musical ou não, como é meu caso, é uma atração que merece ao menos para dar uma olhada. Estou na metade da segunda temporada, e vendo de pouco em pouco, para aproveitar ao máximo. Afinal, mesmo com a terceira temporada garantida, ela continua tendo a menor audiência de todas as séries americanas no ar. O que garante ela ter maior duração? Desta vez, tenho que concordar que deram o prêmio para a pessoa certa.

Youtuber

A atriz e cantora Rachel Bloom também tem um canal no YouTube, com números musicais que ela fez antes de criar a série. Dentre eles destaco o que chama Fuck Me, Ray Bradbury, que é, digamos...uma homenagem ao escritor de ficção científica, falecido em 2012. Confira o canal clicando aqui.

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