Sem mais delongas, com vocês, a parte 2 de "Tigre Sem Rumo"

Continuando a saga dO Ninja, fiquem agora com a parte dois da história que comecei-mas-não-terminei Tigre Sem Rumo.

Capítulo 2 – Visita de última hora

É madrugada no bairro. Os grilos ecoam no silêncio, entrando em harmonia com as corujas. Não há ninguém em sã consciência que esteja acordado a essa hora. Mas isso não importa para Shuryon Taigawa. Durante todos os meses em que esteve morando neste bairro, ele nunca mais conseguiu dormir em paz. Alguma presença sempre o despertou de seu sono superficial...

Quando morava com sua filha, na cidade grande, a situação era a mesma. “De que adianta então, ter se mudado para um mísero bairro, se tudo permanece da forma como estava?”, ele pensou várias vezes. Por isso treinar era preciso com sua preciosa espada, durante todas as manhãs, para estar preparado para quaisquer inconvenientes. As tardes eram guardadas para meditações, que relaxavam sua alma de modo mais profundo possível, para não titubear em situações extremas.

Em todos os ataques, conseguiu se safar. Após as invasões, bastava relaxar o corpo, agradecer a Buda por se safar mais uma vez e dormir, com sua arma por perto. Mas, dessa vez, o risco é diferente. Sua filha, grávida e vulnerável, encontra-se no recinto. Basta uma distração com ela e fim da linha, para ambos. Manter uma vigília em sua casa é preciso para sua família estar a salvo. E Shuryon sabia que ele viria, com toda certeza. Agora é a hora dela saber a verdade.

Shuryon lavou a louça do jantar que acabara de comer e ficou na sala, de luzes apagadas, o tempo todo. Na mesinha, a espada já estava fora do porta-espada, ainda na sua bainha. O estranho amuleto permanecia em cima da lareira. De joelhos, sobre a mesma almofada verde-musgo em que estava, Shuryon espera ansioso. Um suspiro não é o suficiente para relaxá-lo. A espera parece ser mais demorada que aquele jantar com sua filha desconsolada...

De repente, um barulho seco. Poderia ser um galho seco quebrado, ou alguém pousando do ar? Pelas portas de papel, Shuryon não conseguiu ver nenhuma sombra. Seja o que for, era bem treinado. A porta, de repente, se abre. Ninguém parece entrar. Entretanto, ao fechar a porta, o vulto escuro se mexe dentro da casa. Seria de novo aquele sujeito tentando pegar alguma coisa? Shuryon tinha certeza que era aquele invasor de antes. Mas para ter certeza, se escondeu e esperou o momento certo.

Para chegar à lareira, era preciso atravessar a sala, passando pela mesinha. Sempre encostado pelos cantos, o vulto não fez um pio sequer. “Mas que canalha habilidoso!”, pensou Shuryon, escondido pelas cortinas, perto da lareira. Ele está quase lá...faltam ainda alguns passos para poder pegar aquilo que está acima da lareira. Um leve baque é ouvido pelo invasor, ele olha para trás e...

Um forte movimento no ar quase que o corta no meio. Ciente da presença de Shuryon, ele empunha a espada, presa às suas costas e posiciona-se para o combate.

- Droga, essa foi por pouco! – resmunga Shuryon, em voz baixa. Ele não queria colocar a vida de sua filha em risco.

Alguns segundos se passam, os dois se olham, no meio das sombras. Ambos tiveram um treinamento perfeito, podiam controlar a respiração para que evitassem a presença e usavam a escuridão em volta como aliada. Se um avançava, o outro recuava. Sem dúvida essa luta vai ter muitas consequências.

- Então, nos vemos de novo! – sussurra Shuryon. – Desculpe se não te cumprimentei. A que devo sua presença?

Nenhuma resposta. O adversário apenas erguia sua espada à altura do seu ombro, em posição de defesa.

- Muito bem, você é tímido. Pois então vamos ver se consegue responder com sua espada. Defenda isto! – e faz um ataque vertical a alguns metros de distância.

No calar da noite, as espadas ressoem estridentes. “Hã?!”, a garota acorda, apavorada. Ela se levanta com dificuldade, pega o robe, abre a porta de seu quarto e vai em direção à sala. Ela aciona o interruptor.

- Pai! O que foi isso? Algum prob... – ela vê a cena.

Os dois estão em posição de luta. A luz assustou. Parados, eles olham pra garota. O vulto se encontra agora como um ninja, com robe, calças e máscara completamente pretos. Só os olhos estavam descobertos.

- Filha?! – grita Shuryon, olhando para trás, apavorado com o flagra dela. Agora, o pior iria acontecer. Esperava-se que o invasor aproveitasse a distração para acabar com o velho. Mas, ao olhar de volta para seu inimigo, Shuryon reparou que o ninja abaixou a espada, que segurava com tanta segurança, e começou a fitar a garota. Ao olhar para trás, ela fazia o mesmo. Será que os dois já se conheciam?

Foram milésimos de segundo cruzando os olhares. O ninja não mostrava sua expressão, mas pelos olhos verdes vidrados nela podia-se ver que ele estava preocupado. A garota, em choque, não esboçava nenhuma emoção sequer, seus olhos estavam fixos, e sua boca entreaberta.

Foi então que Shuryon aproveitou esse momento para contra-atacar. “É agora que isso acaba! Tome isso!”, grita o velho atacando, dessa vez com um corte horizontal. O ninja consegue sair de transe para desviar, mas não o suficiente para sair ileso. Um grito não muito alto revela um rosto com um pequeno corte. Longos cabelos pontudos castanhos, apoiados por um rabo-de-cavalo, surgiram. O queixo pontudo e o nariz fino também. Finalmente a máscara caiu.

- Como eu imaginava! Conseguiu escapar por pouco do meu ataque, hein Okazuro?? – disse Shuryon ofegante, mas aliviado. Seu rival agora olhava o velho de relance, com raiva.

- Okazuro?! Mas...o que ele está fazendo aqui? – pensa a garota, perplexa e confusa.

- Eu sabia. Deixou a família em casa pra tentar roubar o Sabre do Tigre de novo, como faz desde sempre? – gritou Shuryon, num tom de desafio.

Okazuro ri debochadamente, limpando o sangue da boca. Ele apenas diz: “Era o que eu esperava...” Ele agora lambe o sangue do rosto que está nas mãos. “...mas vejo que a família já está aqui, pra festa”. – ele diz, olhando pra garota, apavorada. Atônita com o que acabou de ver, ela não fala nada.

- Olá, minha querida Onihime! Sentiu minha falta? – diz Okazuro, olhando de relance pra ela. A espada ainda está em mãos.

Congelada, Onihime sua frio.

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